quinta-feira, 17 de outubro de 2013

BIOGRAFIAS: A ESCRITA NÃO É A VIDA QUE SE VIVE.

     
       De tanto ouvir e ler opiniões e opiniões sobre biografias, biógrafos, biografados, leis, regras e receitas sobre esse tema, que emergiu depois do encontro de Roberto Carlos, Caetano Veloso e outros artistas com políticos para discutirem o assunto, é que resolvi mandar minha bala de borracha, que não tem compromisso com nada, a não ser o de dialogar com quem quer seja onde estiver.

      Concordo e discordo das várias e variadas idéias colocadas e tirando uma coisinha daqui e outra dali, fiquei sem entender lhufas de nada do que foi dito e publicado. Acusaram-se uns e outros de "passarem de censurados à censores", "mercenários", "obras maiores que os autores", "rendidos e vendidos", até o gênero foi acusado de ser um "gênero menor" e por aí foram as farpas trocadas.

        De minha parte, não gosto da divisão fascista da arte em "maior" ou "menor", 1ª, 2ª, 3ª... Como no futebol já vi muito time grande da primeira perder para o último colocado e ir para a divisão inferior, nas artes vejo menos sentido nessas divisões, ainda mais em um mundo tecnologizado onde tudo tende a se integrar e desintegrar simultaneamente. Aqui fico com Oscar Wilde, não existem folhetins ruins para se ler diante de um romance, por exemplo. Não é por ser folhetim, que é ruim ou porque é romance é bom. Existem bons e maus textos, sejam em folhetins, romances ou poesia e o critério fica com cada leitor. É a prática da escrita e da leitura, que define a literatura de cada época.

           Biografias também podem ser bem feitas e renderem boas leituras. Independente do biografado. Algumas figuras históricas tiveram vidas ridículas, mas mesmo assim exaltadas por massas de sua época e as biografias produzidas foram necessárias para melhor se entender aquela época e sua obra. Vide Nero e a decadência de Roma.

        Fernando Pessoa não fez nada incomum em sua vida de contabilista em seu tempo, a não ser sua obra. Assim também, Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade. Mas, nada deve impedir seus leitores atuais de conhecerem melhor suas vidas. E, mesmo com a distância temporal, é possível, que além de todas as já publicadas ainda possam surgir novas biografias com fatos inéditos e desconhecidos, bem feitas e bem escritas.

         Caso extremo, foi o do velho Léon Trotsky. Deixou sua autobiografia, "Minha Vida" (acho que ainda a ser publicada no Brasil) e foi assassinado, justamente quando escrevia a biografia de seu inimigo político, mandante de seu assassinato, o ditador do proletariado, o georgiano Joseph Stálin. Os líderes comunistas são pródigos em terem biografias onde são glorificados e logo depois desmitificados até seus mitos serem destruídos, seja por publicações de seus ministérios de propaganda e cultura ou pelos serviços secretos, KGB, CIA, que aliás, dominam muito bem esse assunto de biografias, tornando o assunto ainda mais complicado.

          Penso que as leis, que regem essas publicações devem ser flexíveis considerando-se as circunstâncias, que envolvem cada biografia. Tanto a pessoa (que pode se tornar um personagem) como o biógrafo devem ser ouvidos atentamente antes de qualquer decisão judicial final sobre tão controvertido assunto.

          Quem não quiser ter sua vida ou intimidade exposta poderá deixar esse seu desejo por escrito e que essa declaração seja respeitada pelo possível biógrafo. Talvez seja necessário incluir essa possibilidade de desejo na lei como garantia de direito. 

       De qualquer forma, acho que esse assunto só será definitivamente resolvido se ampliado mais e mais as liberdades de expressão, ou seja, garantindo por igual a expressão dos dois lados : a da pessoa quer não ver sua biografia publicada e a do biógrafo, que quer publicar seu texto. 

       Só para lembrar: palavra é palavra, nunca a coisa. Palavra é um recurso de comunicação, que estimula a imaginação, gera ficção. E muda. Vida é indefinível por palavra. Se vive. É fricção. Mas, no entanto se necessita da palavra para explicá-la e entendê-la. Dizem que uma imagem vale por mil palavras. Mas, quem diz essa frase sempre se necessita do uso das palavras. Contradição das contradições. 

        Esse assunto das biografias, acho que é assim: não tem fim. Por isso, é necessário sempre voltar à ele, de tempos em tempos. THAELMAN CARLOS. 
                                                         

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