O JORNALISTA E ESCRITOR LUIS LEIRIA.
Luis Leiria está no Brasil para o lançamento de seu livro de contos O INFERNO DE OUTRO MUNDO. Em São Paulo, o evento foi na Livraria Cortez. Reuniu leitores, amigos e antigos companheiros de viagem. A maioria dos presentes do tempo de militância da Convergência Socialista quando combatia o que restava da esquerda burocrática e da direita, que queria manter no poder a ditadura civil-militar.
No Rio de Janeiro,
está marcado para amanhã, dia 18, quarta-feira, na Livraria Antonio Gramsci, na
Rua Alcindo Guanabara, 17, ao lado do Amarelinho, com apresentação da escritora
Rosa Amanda Strausz.
Em nosso breve
contato, nosso assunto foi sobre seu livro e a referência ao nosso amigo comum,
o historiador e jornalista Tomi Mori a quem Leiria dedica o conto O HOMEM QUE
AMAVA BILL EVANS. Rapidamente, Leiria contou-me, que enquanto escrevia este
conto, Mori, apresentou sintomas de uma doença, que suspeitava ser grave. Antes
mesmo de comprovar o mal que poderia ter, Mori apresentava-se desanimado para
qualquer tratamento. Leiria, sempre solidário se opôs ao desânimo, exigindo a
reação do amigo. Acabou-o por introduzi-lo
no conto ao mesmo tempo, que o reanimava. Feitos os exames, nada grave foi
constatado, a saúde normalizada e o ânimo retomado.
Depois
de toda essa tensão, Mori – “ressuscitou enquanto eu escrevia este conto” assinalou
Leiria, na introdução. Poderíamos dizer que por momentos, nosso
amigo Mori saiu da “história” para entrar na estória.
Para saber mais, do
livro e do que pensa da literatura atual, seus procedimentos e como pretende
conduzir sua vida literária, solicitei a Leiria essa entrevista, que gentilmente a concedeu por e-mail. THAELMAN CARLOS
"CONTO
NÃO VENDE”?
angu - Dá para fazer
literatura sob as políticas de austeridade da Troika?
Conheço mal o mercado
editorial do Brasil, mas parece-me que está vivendo um momento de grande
pujança, muito diferente do que acontece num Portugal mergulhado numa
austeridade selvagem, onde as pessoas veem cortado o seu salário e o desemprego
alcança níveis intoleráveis. Em Portugal, as editoras publicam quase
exclusivamente valores seguros, livros que sabem de antemão terem venda
garantida, evitando arriscar com nomes desconhecidos. Para piorar (no meu caso)
todas têm um mantra: “conto não vende”.
“O MICROCONTO JÁ EXISTIA ANTES DA ONDA DIGITAL”
angu - A forma do conto se
mantém intacto e fiel a prosa tradicional memorialista ou vai se contaminando
pelo vírus digital ? Como você vê essa tendência (se é que se pode dizer assim)
dos microcontos, que proliferam nas novas mídias, encurtando a prosa. Vai se
exigir uma linguagem mais sintética para contar histórias e estórias?
Na verdade, o microconto já
existia antes da onda digital. Veja-se o famoso conto de Augusto Monterroso: Quando acordou, o dinossauro
ainda estava ali.
Pessoalmente, não pratico
este gênero de contos, assim como não sou grande fã do Twiter, a minha conta
costuma ter pouco movimento. Mas não creio que o meio tenha muita influência no
conto. Continuará a haver contos de escrita mais ou menos tradicional, mais ou
menos memorialística, mais ou menos fantástica, independentemente de serem
publicados em bits ou em formato analógico. E, sobretudo, continuará a haver
bons e maus contos.
“PORTUGAL ADOTOU MUITA GÍRIA BRASILEIRA E AFRICANA”
angu - Você que escreve e
publica, em Portugal e no Brasil, como se relaciona com a unificação da
gramática, dificultou ou facilitou a comunicação entre leitores e falantes
dessa nossa língua comum ?
A gramática sempre esteve
mais ou menos unificada, eu pelo menos sempre segui a do brasileiro
Celso Cunha e do português Lindley Cintra. A novidade recente foi o Acordo
Ortográfico, que eu defendo. Acho que vem facilitar a comunicação, o que não
quer dizer que a língua nos unifique-nos vários países que falam o português.
Há diferenças de sintaxe e, sobretudo vocabulares que se mantêm e que
enriquecem a língua na sua natural diversidade. E há uma interinfluência muito
grande. Portugal adotou muita gíria brasileira e africana que se tornou
corrente e que há 20 ou 30 anos não era usada. Os leitores brasileiros sabem o
que é “bué”?
Eu tenho consciência dessas
diferenças e por isso adaptei o meu livro ao português do Brasil, coisa que
creio que outros autores portugueses não fazem. Acontece que não me considero
português, mas luso-brasileiro, escrevo e falo das duas formas, fui jornalista
por 17 anos no Brasil, numa carreira de 35 anos, e por isso pretendo manter
essa prática em futuros livros.
“MAL DO AUTOR QUE ESCREVA EM FUNÇÃO DE
ESTRATAGEMAS PARA AGRADAR O LEITOR”
angu - Em “O Inferno de Outro
Mundo” a referência às outras artes (música, cinema) para o leitor chega de
forma sedutora e naturalmente envolvendo pelo prazer da leitura. Foi um
processo natural da expressão ou estratagema consciente do autor para alterar
ampliando a sensibilidade do leitor?
Mal do autor que escreva em
função de estratagemas para agradar o leitor... Não, as referências a outras
artes, e nomeadamente à música e ao cinema apareceu de forma natural, porque
fazem parte integrante da minha vida... Filmes como “Invasores de Corpos” ou
“Casablanca”, “Decameron” ou “Ed Wood” apareceram nos contos porque têm a ver
com as histórias. Já a música de Bill Evans sempre foi muito importante para
mim. Só tive de exagerar um pouco o fanatismo para criar o protagonista do
conto “O Homem que Amava Bill Evans”.
“A
FOTÓGRAFA DE RUA”
angu - Há outros projetos de
continuidade na prosa para o futuro? Se sim, pode falar um pouco sobre eles?
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