terça-feira, 17 de setembro de 2013

angu - ENTREVISTA LUIS LEIRIA.

                                                             

O JORNALISTA E ESCRITOR LUIS LEIRIA.  

                          Luis Leiria está no Brasil para o lançamento de seu livro de contos O INFERNO DE OUTRO MUNDO. Em São Paulo, o evento foi na Livraria Cortez. Reuniu leitores, amigos e antigos companheiros de viagem. A maioria dos presentes do tempo de militância da Convergência Socialista quando combatia o que restava da esquerda burocrática e da direita, que queria manter no poder a ditadura civil-militar. 
                      
                           No Rio de Janeiro, está marcado para amanhã, dia 18, quarta-feira, na Livraria Antonio Gramsci, na Rua Alcindo Guanabara, 17, ao lado do Amarelinho, com apresentação da escritora Rosa Amanda Strausz.                           

                       

                           Em nosso breve contato, nosso assunto foi sobre seu livro e a referência ao nosso amigo comum, o historiador e jornalista Tomi Mori a quem Leiria dedica o conto O HOMEM QUE AMAVA BILL EVANS. Rapidamente, Leiria contou-me, que enquanto escrevia este conto, Mori, apresentou sintomas de uma doença, que suspeitava ser grave. Antes mesmo de comprovar o mal que poderia ter, Mori apresentava-se desanimado para qualquer tratamento. Leiria, sempre solidário se opôs ao desânimo, exigindo a reação do amigo.  Acabou-o por introduzi-lo no conto ao mesmo tempo, que o reanimava. Feitos os exames, nada grave foi constatado, a saúde normalizada e o ânimo retomado.

                           Depois de toda essa tensão, Mori – “ressuscitou enquanto eu escrevia este conto” assinalou Leiria, na introdução. Poderíamos dizer que por momentos, nosso amigo Mori saiu da “história” para entrar na estória.

                          Para saber mais, do livro e do que pensa da literatura atual, seus procedimentos e como pretende conduzir sua vida literária, solicitei a Leiria essa entrevista, que gentilmente  a concedeu por e-mail. THAELMAN CARLOS
                             
                             
FOTO DO LANÇAMENTO DO LIVRO "O INFERNO DE OUTRO MUNDO" DE LUIS LEIRIA NA LIVRARIA CORTEZ, EM SP.

                                                                 
                                 "CONTO NÃO VENDE”?
                                                    
                         angu - Dá para fazer literatura sob as políticas de austeridade da Troika?

Conheço mal o mercado editorial do Brasil, mas parece-me que está vivendo um momento de grande pujança, muito diferente do que acontece num Portugal mergulhado numa austeridade selvagem, onde as pessoas veem cortado o seu salário e o desemprego alcança níveis intoleráveis. Em Portugal, as editoras publicam quase exclusivamente valores seguros, livros que sabem de antemão terem venda garantida, evitando arriscar com nomes desconhecidos. Para piorar (no meu caso) todas têm um mantra: “conto não vende”.

O MICROCONTO JÁ EXISTIA ANTES DA ONDA DIGITAL”

angu - A forma do conto se mantém intacto e fiel a prosa tradicional memorialista ou vai se contaminando pelo vírus digital ? Como você vê essa tendência (se é que se pode dizer assim) dos microcontos, que proliferam nas novas mídias, encurtando a prosa. Vai se exigir uma linguagem mais sintética para contar histórias e estórias?

                           Na verdade, o microconto já existia antes da onda digital. Veja-se o famoso conto de Augusto Monterroso: Quando acordou, o dinossauro ainda estava ali.

Pessoalmente, não pratico este gênero de contos, assim como não sou grande fã do Twiter, a minha conta costuma ter pouco movimento. Mas não creio que o meio tenha muita influência no conto. Continuará a haver contos de escrita mais ou menos tradicional, mais ou menos memorialística, mais ou menos fantástica, independentemente de serem publicados em bits ou em formato analógico. E, sobretudo, continuará a haver bons e maus contos.

“PORTUGAL ADOTOU MUITA GÍRIA BRASILEIRA E AFRICANA”

angu - Você que escreve e publica, em Portugal e no Brasil, como se relaciona com a unificação da gramática, dificultou ou facilitou a comunicação entre leitores e falantes dessa nossa língua comum ?
                 
   A gramática sempre esteve mais ou menos unificada, eu pelo menos sempre segui a do brasileiro Celso Cunha e do português Lindley Cintra. A novidade recente foi o Acordo Ortográfico, que eu defendo. Acho que vem facilitar a comunicação, o que não quer dizer que a língua nos unifique-nos vários países que falam o português. Há diferenças de sintaxe e, sobretudo vocabulares que se mantêm e que enriquecem a língua na sua natural diversidade. E há uma interinfluência muito grande. Portugal adotou muita gíria brasileira e africana que se tornou corrente e que há 20 ou 30 anos não era usada. Os leitores brasileiros sabem o que é “bué”?
Eu tenho consciência dessas diferenças e por isso adaptei o meu livro ao português do Brasil, coisa que creio que outros autores portugueses não fazem. Acontece que não me considero português, mas luso-brasileiro, escrevo e falo das duas formas, fui jornalista por 17 anos no Brasil, numa carreira de 35 anos, e por isso pretendo manter essa prática em futuros livros.

“MAL DO AUTOR QUE ESCREVA EM FUNÇÃO DE ESTRATAGEMAS PARA AGRADAR O LEITOR”

angu - Em “O Inferno de Outro Mundo” a referência às outras artes (música, cinema) para o leitor chega de forma sedutora e naturalmente envolvendo pelo prazer da leitura. Foi um processo natural da expressão ou estratagema consciente do autor para alterar ampliando a sensibilidade do leitor?

Mal do autor que escreva em função de estratagemas para agradar o leitor... Não, as referências a outras artes, e nomeadamente à música e ao cinema apareceu de forma natural, porque fazem parte integrante da minha vida... Filmes como “Invasores de Corpos” ou “Casablanca”, “Decameron” ou “Ed Wood” apareceram nos contos porque têm a ver com as histórias. Já a música de Bill Evans sempre foi muito importante para mim. Só tive de exagerar um pouco o fanatismo para criar o protagonista do conto “O Homem que Amava Bill Evans”.
               
                 “A FOTÓGRAFA DE RUA”

angu - Há outros projetos de continuidade na prosa para o futuro? Se sim, pode falar um pouco sobre eles? 

 Se tudo der certo, terei em breve pronta uma novela, ou romance curto, chamado (provisoriamente) "A FOTÓGRAFA DE RUA".




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