Rompendo radicalmente com a antiga tradição conciliatória da política brasileira, o golpe militar de 31/03/1964, derrubou o presidente eleito João Goulart e implantou uma linha ideológica definida: unica e radicalmente de direita. Contou com a participação de civis e militares, que se apossaram do poder de Estado com a finalidade de impedir qualquer ascenso social e popular das organizações de esquerda, que foram esfaceladas pela violência utilizada contra elas.
Os opositores ideológicos eram taxados de "comunistas", termo usado pejorativamente, que se desdobrava em "subversivos" e "terroristas" usados quase como sinônimos. Em um primeiro momento, os golpistas cercearam o desenvolvimento de suas bases efetuando prisões de sindicalistas, intervindo e trocando as direções dos sindicatos. A maioria da composição social dessas bases vinham do movimento camponês. Embora centralizada no ABC paulista, o golpe não parou o processo de industrialização iniciada na década anterior pelo governo JK.
Dentro de pouco tempo, a ditadura promoveu o maior êxodo rural da história, mecanizando os modos de produção , esvaziando o campo e impondo um retrocesso, que nenhum governo pós-golpe e pós-ditadura ainda conseguiu solução para a questão agrária, apenas aprofundando as políticas medíocres de arrocho anteriores.
A maioria da população, que ainda não apoiava o golpe passou a ser tratada e classificada como "inimigo interno" pelos analistas do Serviço Nacional de Informação - SNI, órgão federal com poderes de ministério, mas totalmente tutelado pela CIA. Logo, perseguições, prisões, torturas e delações passaram a acontecer em toda a sociedade. Genericamente, os trabalhadores foram esse inimigo e mais especificamente, os camponeses, que desde de a década de 50 viviam um ascenso na luta para igualar seus direitos aos dos trabalhadores das cidades, que já tinham conseguido algumas conquistas desde o governo de Getúlio Vargas.
PE. ALÍPIO DE FREITAS, RESISTE AO GOLPE
Não à toa, o preso político, que mais tempo permaneceu nas garras da repressão da ditadura, foi o português radicado no Brasil, o pe. Alípio de Freitas, que passou nove anos nas masmorras de todas as prisões políticas da ditadura: DEOPS, OBAN/DOI/CODI, CENIMAR, em vários estados e em Brasília, seu relato detalhado das torturas, que sofreu são narradas no livro "RESISTIR É PRECISO".
O slogan americano do governo Richard Nixon, em 1968 "Love it or leave it", foi adaptado pela ditadura, no Brasil.
Não há nada semelhante na história republicana do Brasil: o abandono completo de práticas políticas substituídas por ações da polícia política contra o inimigo interno - o próprio povo brasileiro. E, em todos os recantos país e fora dele, na América Latina e na Europa."Para onde fosse o Brasil iria a América Latina" essa era a a base da doutrina norte-americana para manter o controle político de seu "quintal" latino-americano.
Como demonstram os documentos dos arquivos do DEOPS e outros órgãos da repressão, hoje no Arquivo Público de SP e que ANGU - Arte, Poesia & Kontrakultura dispõe aos seus leitores pode-se observar e depreender, que o monitoramento da polícia política se deu em várias esferas, além da propriamente política perdurando no tempo da década de 40 à década de 80. Acompanhando, inclusive partidos de sua própria base de sustentação, a ARENA (Aliança de Renovação Nacional).
O cerceamento policial vinha desde a década de 40, acirrando-se no pré-golpe e aspirando sua legalidade até o fim da ditadura.
PRAIAS TAMBÉM FORAM VIGIADAS
Baseando-se em supostos acordos foi-se protelando a verdade dos interessados na própria história.
Só recentemente, com a formação de Comissões da Verdade é que essas informações passaram a circular tornando-se conhecidas alterando a rota do debate público.
Acordos inexistentes falsearam a história real
NO LITORAL, O MAR VIROU SERTÃO
Se os trabalhadores do campo foram os mais atingidos e permanecem "desaparecidos" da história, ofuscados pela visão individualista, pequeno burguesa, que substitui a luta popular por "heróis" da luta armada em suas aventuras da guerrilha urbana, que resultou em retumbante fracasso, justamente por estarem descolados e isolados pela repressão das bases, que poderiam impulsioná-los à vitória.
Dentre os trabalhadores, os caiçaras (povos do mar) ficaram invisíveis, suas lutas de resistência, sua memória e história de perseguições e expulsão de suas origens de onde foram removidos à força, da beira do mar para as periferias das cidades e sertões, apenas para atender aos interesses do capitalismo que se instalou, gerando novas necessidades de sobrevivência e formas de lutas assimiladas no processo desse combate histórico. Invisibilidade gerada pela necessidade do apagamento da consciência de todo um povo.
A releitura da história regional com a nova informação possibilita a ligação dos pontos ocultados, que impediam a visão geral dessa realidade, que não deve permanecer oculta, nem ser apagada de nossa memória, uma vez, que suas consequências continuam atingindo os trabalhadores e em seu cotidiano tem de enfrentar violências disseminadas indiscriminadamente, seja por agentes do Estado, do crime organizado, bandidos comuns, assédios, violência doméstica, homofobias e tantas outras, resultado da crise gerada pela ausência de políticas sociais e investimentos culturais.
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DÉCADA DE 40
DÉCADA DE 60
DÉCADA DE 80
O blog ANGU - Arte, Poesia & Kontrakultura além de divulgar os documentos, registros de perseguições e violações de direitos políticos, sociais e humanos propõe uma série de entrevistas com personalidades da região e outros, que estudam a questão caiçara tratando o tema, apoiando e incentivando a formação de uma Comissão da Verdade local e regional com uma abordagem livre, independente e com a devida profundidade trate o assunto proposto em questão mantendo-se aberta à todos os leitores, que se interessem em participar e colaborar com suas memórias e documentos para o registro da história, a partir da experiência dos trabalhadores e do povo caiçara para que se reconheça o valor de sua luta e para que sempre se amplie democraticamente o acesso do debate público sobre tema histórico.
O EXÉRCITO AINDA RESISTE EM ABRIR SEUS ARQUIVOS
POR UMA COMISSÃO DA VERDADE, EM CARAGUATATUBA / LITORAL NORTE DE SP.
QUE NÃO SE ESQUEÇA, PARA QUE NÃO MAIS ACONTEÇA !
TODOS OS DOCUMENTOS DIGITALIZADOS FORAM PESQUISADOS E ESTÃO ACESSÍVEIS NO ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DE SP
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