Essa poesia fiz quando participava de uma oficina literária com orientação da poeta Eunice Arruda na Biblioteca Mário Andrade em São Paulo na década de 80. Com ampla formação acadêmica , Eunice Arruda nos subsidiava com informações da história , formas e todo o desenvolvimento da arte poética. De Aristóteles à Haroldo de Campos de quem ela também foi aluna. Alimento e estímulo contínuo em perfeita simbiose à produção. Discutíamos formas e tendências da poesia contemporânea. Tínhamos o compromisso de trabalhar com as palavras utilizando suas sonoridades, visualidade e conteúdos.
Abria brechas e sendas entre os constantes entraves burocráticos, que sempre cerceiam a produção poética. Até hoje continuo achando, que se há funções para a poesia, que não seja a de ser o da própria vitalidade da linguagem, uma delas pode ser a de romper os espaços e libertar o tempo. O seu próprio e o de quem se relaciona , ou seja , seu leitor. Essa interação é a necessária para a existência do poema e do poeta.
O tratamento visual , que remete aos mais remotos caligramas e notadamente traz a influência dos maiores como Guillaume Apollinaire, Vicente Rego amplamente utilizados na poesia concreta pode ser consequência das leituras e busca da identidade nestas formas conhecidas, consciente ou inconscientemente, afinal não é possível negar as influências que trazemos da época em que vivemos, oscilem elas para o lado que for.
De qualquer modo, o resultado é o produto da busca forma/conteúdo definido como uma conjugação de escalas variantes tonais incorporando dissonâncias - sintetizadas no sistema serial.
A leitura se mantém horizontalmente da esquerda para a direita e na vertical de cima para baixo atraindo o olho do leitor para armadilha da "palavra no papel", um convite à uma dança visual projetada na imaginação e que tem como fim o encontro entre o proposto do autor com o olho do leitor. Dessa fusão explode o que pode ser sentido e significado. É a contradição entre o fixo e o imanente. O que está além do visto é o que interessa. O indefinido sugerido pelo estabelecido.
Nesse mínimo, entre o preciso e indefinido do poema , talvez esteja a poesia.
THAELMAN CARLOS

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