quarta-feira, 28 de março de 2012

PALAVRAS NO PAPEL


                                          Essa poesia fiz quando participava de uma oficina literária com orientação da poeta Eunice Arruda na Biblioteca Mário Andrade em São Paulo na década de 80. Com ampla formação acadêmica , Eunice Arruda nos subsidiava com informações da história , formas e todo o desenvolvimento da arte poética. De Aristóteles à Haroldo de Campos de quem ela também foi aluna. Alimento e estímulo contínuo em perfeita simbiose à produção. Discutíamos  formas e tendências da poesia contemporânea. Tínhamos o compromisso de trabalhar com as palavras utilizando suas sonoridades, visualidade e conteúdos.

                                                        Abria brechas e sendas entre os constantes entraves burocráticos, que sempre cerceiam a produção poética. Até hoje continuo achando, que se há  funções para a poesia, que não seja a de ser o da própria vitalidade da linguagem, uma delas pode ser a de romper os espaços e libertar o tempo. O seu próprio e o de quem se relaciona , ou seja , seu leitor. Essa interação é a necessária para a existência do poema e do poeta.

                                                        O tratamento visual , que remete aos mais remotos caligramas e notadamente traz a influência  dos maiores como Guillaume Apollinaire, Vicente Rego amplamente utilizados na poesia concreta pode ser consequência das leituras e busca da identidade nestas formas conhecidas, consciente ou inconscientemente, afinal não é possível negar as influências que trazemos da época em que vivemos, oscilem elas para o lado que for.

                                                         De qualquer modo, o resultado é o produto da busca forma/conteúdo definido como uma conjugação de escalas variantes tonais incorporando dissonâncias - sintetizadas no sistema serial.

                                                          A leitura se mantém horizontalmente da esquerda para a direita e na vertical de cima para baixo atraindo o olho do leitor para armadilha da "palavra no papel", um convite à uma dança visual projetada na imaginação e  que tem como fim o encontro entre o proposto do autor  com o olho do leitor. Dessa fusão explode o que pode ser sentido e significado. É a contradição entre o fixo e o imanente. O que está além do visto é o que interessa. O indefinido sugerido pelo estabelecido.

                                                          Nesse mínimo, entre o preciso e indefinido do poema , talvez esteja a poesia.                         
                                    THAELMAN CARLOS

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