domingo, 18 de agosto de 2013

ALBERTO MARSICANO - (1952 - 2013)

        Alberto Marsicano Rodrigues ficou mais conhecido por ser o introdutor da cítara no Brasil. O primeiro músico brasileiro a se dedicar integralmente à citara. Nesse instrumento tocou desde música clássica indiana, rock'n roll e música popular brasileira.

         Quando passou no vestibular para USP ganhou uma grana da família e com esse dinheiro foi para Londres, onde teve as primeiras aulas de citara na Academia de Ravi Shankar, seu primeiro mestre do instrumento. Já tocava viola antes e seus solos eram em apenas uma corda, o que lhe facilitou na cítara. As outras cordas são de ressonância. Não abandonou mais o instrumento e a cada dois anos viajava à Índia para novas aulas. E lá, abriu um terreiro para divulgar a espiritualidade brasileira descendente da África. 

        Poeta, filósofo graduado em filosofia pela USP, tradutor (traduziu Rimbaud, William Blake, Jim Morrison, poesia japonesa e chinesa, poetas românticos ingleses entre outros), transitou com rara habilidade por todas as escolas da poesia moderna : versos livres, surrealistas, beats, concretos. Não se fixou em nenhuma escola. Como para todo revolucionário, não se fixava aos dogmas filosóficos das tendências, que participou. Sempre soube superá-los.
                                                       
RUBINHO DA MANGUEIRA (PERCUSSÃO)  COM ALBERTO MARSICANO - Em apresentação no SESC/SP

        Passou também com rara liberdade por várias religiões. Era iniciado no candomblé (tocava atabaque em rituais espirituais), orientalismo (zen budismo e iniciado no taoismo) e um cristianismo livre, à própria moda. Fez experiências com drogas (substâncias) e nunca as renegou. Era iniciado no psicodelismo de Tim Leary.

         Na segunda metade da década de setenta, quando as esquerdas passavam por uma recomposição ideológica depois das derrotas anteriores da luta armada, tivemos vários debates ideológicos. Do marxismo simpatizava com Trotsky, mas se reivindicava anarquista. Não tinha a disciplina necessária para compromissos partidários. Sua dedicação à arte o absorvia todo tempo.

          Iniciei a revista ANGU, em Caraguatatuba com o Bruno Barracano. De São Paulo, Marsicano nos dava todo apoio. Se Barracano era nossa referência de uma literatura cosmopolita local, Marsicano nosso orientador cósmico, inter espacial. Nossos guias espirituais da poesia, que queríamos atingir.
Escreveu essa "Poesia com Angustura" :
                    Angus na guitarra
                       Pangu no modernismo
                          Augusto de Campos na poesia                                                                                    

Foi um guerrilheiro das vibrações, revolucionário das artes, do pensamento e da cultura em sua mais alta expressão da humanidade.

Minha melhor forma de manter sua memória (tantas e tantas histórias vividas) será continuando o que começamos juntos.

Alberto Marsicano: é o zen!               

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